sábado, 17 de janeiro de 2015

Mary, Magno Costa

Mary, Magno Costa. 40 páginas. Balão Editorial, coleção Zug, São José do Rio Preto, 2013.

Todas as histórias em quadrinhos são mudas, porque, afinal não têm som. Mas entre elas, há um tipo muito especial de narrativa, que é aquele que não tem nenhuma palavra escrita, nada que simule a função do "som" que os quadrinhos nunca tiveram. Não são comuns e nem fáceis de achar. O melhor do quadrinho que se lê apenas pelas imagens é sua universalidade, não importa qual língua o leitor fale, a história será plenamente compreendida.
Alguns cartunistas usaram esse modelo narrativo com resultados belíssimos, como os clássicos Pinduca (Henry, no original), de Carl Anderson, e O Reizinho (The Little King) de Otto Soglow, ambos dos anos 1930. Eles demonstram muito bem o fundamento que o grande cartunista Will Einser (1917-2005) batizou como Arte Sequencial, a mais nobre característica dos quadrinhos.
No Brasil, o quadrinho mudo também não é comum, mas tem muitos admiradores, porque sua execução exige maestria e virtuosismo artístico. E é justamente isso que encontramos em Mary, de Magno Costa, um pequeno álbum de apenas 40 páginas publicado dentro da coleção Zug, da Balão Editorial.
A história mostra o drama de uma mulher vitimada pela Inquisição e as consequências funestas desse ato violento. Os desenhos, apenas um por página, são em preto e branco com belos tons de aguada, e têm uma expressividade perturbadora realçada pela esqualidez das personagens. A história não chega a aterrorizar, mas deixa no leitor o gosto amargo da cumplicidade pelo destino daquela gente confusa.
Magno Costa é um autor jovem, mas que já conta com um currículo respeitável. Premiado em 2011 com o HQMix de desenhista revelação, publicou anteriormente dois trabalhos muito bem avaliados pelos leitores: Oeste vermelho e Matinê, ambos em parceria com seu irmão gêmeo, Marcelo.
A Balão Editorial tem um conceito intrigante com a coleção Zug. Com formato semelhante ao de uma caixa de cd, no tamanho 13 x 13 cm, remete a uma situação do jogo de xadrez conhecida como zugzwang. Cada número da coleção é identificado com uma peça do tabuleiro. Todo mundo é feliz, de Mateus Acioli, é o peão branco. Como na quinta série, de DW Ribatski, é o peão preto (que pode – e deve – ser lido onlineaqui). Mary é o terceiro volume, o bispo branco.
O preço acessível, de apenas R$13,00, é amplamente compensado pela qualidade do trabalho, um exemplo raro e didático de até onde uma história em quadrinhos pode ir nas mãos de um artista talentoso.
Cesar Silva

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